segunda-feira, 6 de novembro de 2023

[57] Diálogos na paisagem

Há mais de 10 anos tenho a felicidade de conviver quase diariamente (desde que casei e mudei) com a paisagem da Baía da Guanabara do ponto de vista da praia de Icaraí, em Niterói, o que resulta, como um bônus especial, na visão do perfil das montanhas do Rio de Janeiro: o Pão de Açúcar, o da Urca, o de São João, o dos Cabritos, o Dois Irmãos.

Diálogos na paisagem - Foto: Guina Araújo Ramos, Niterói, 2023

Niterói, por si só, tem os seus destaques, incluindo os geográficos e os geológicos, e alguns deles formam uma fieira de ilhotas à frente da Praia de Icaraí, na continuidade da Praia das Flechas, no Ingá, até o promontório onde “viaja” o disco do MAC e à Ilha da Boa Viagem.

Uma dos melhores prazeres desta convivência é fazer, de vez em quando, uma descoberta altamente interessante (pelo menos para quem fotografa, acho eu). Aliás, bem o que me aconteceu ao perceber que a Ilha dos Cardos era na verdade uma Esfinge do Brasil...
Desta vez, tive o deslumbre quando buscava enquadrar a Pedra do Índio dentro da grande pedra do Pão de Açúcar,
copiando, admito, outras que já vi por aí... Feita a foto, com o corte fechado para marcar o encaixe da pedra de cá com a montanha de lá, acrescentei aos meus arquivos, apesar das limitações de um mero celular (não dos bons...), outras versões mais abertas da paisagem.
Bem depois é que, revendo a imagem no celular, em casa, notei o "diálogo" entre as montanhas do Rio e as pedras e ilhotas
“desarrumadas” do litoral de Niterói: mais do que um rascunho do perfil do Rio, praticamente um diálogo geológico. Ou seria um contraponto?... 

Balé da orla - Foto: Guina Araújo Ramos, Niterói, 2012
Justamente quando descubro esta sutil similitude, eis que me reaparece, no Facebook, uma fotografia de anos atrás, em que o espanto está no diálogo entre o Rio de Janeiro e um ciclista de Niterói, o que defini como “Balé da orla: do saiote de nuvens ao dueto ciclístico”. E, já que imagem retornou, complementei: “E continua a dança dos moventes (e ‘descansantes’) com a relaxante paisagem...”.