sábado, 28 de maio de 2022

[46] A cruz dos balões

Balões com rosário - Rio, 2022 - Foto: Guina Araújo Ramos

Sabe-se lá o sentido de certas coisas e atos que nos surpreendem...
Neste sábado, olhando de Niterói para o Rio, na direção do Corcovado, eis que me aparece um objeto voador em ascensão, que a princípio parecia mais um problemático balão pré-junino.
Fui buscar a máquina fotográfica e, acionando o zoom quase ao limite, consegui a foto (a esta altura, sem a referência da paisagem, que lhe daria mais valor).
E entendi que se tratava, como se vê, de um aglomerado de balões de gás, daqueles de festas de aniversário, que transportava uma aparente cruz, que depois pude reconhecer como sendo, simbolicamente, um rosário, um instrumento religioso (creio que exclusivamente) católico.
Fiz a foto, antes de mais nada pelo inusitado da imagem, e fiquei me perguntando que sentido teria isto, questão que, com a parca noção de religião que tenho na cachola, não pude resolver.
Pude apenas buscar na memória possíveis alusões e conotações, que sempre foi prática corriqueira e necessária para mim, que fui fotojornalista profissional e até dei aulas de "leitura de imagens" em uma pós-graduação.
Bem, não pude mais do que me lembrar do indigitado padre voador que, em 2008, também por razões midiáticas (que deve ser este o caso), viajou neste inusitado meio de transporte do litoral do Paraná até sua inimaginável morte nas águas religiosamente indiferentes do Oceano Atlântico...

Algum tempo depois, enfim, me veio à mente uma conotação talvez bem mais procedente: a lembrança dos barquinhos com presentes para Iemanjá que adeptos das religiões de matriz africana lançam ao mar no dia 2 de Fevereiro ou na passagem do ano. 

Ou seja, o rosário elevado aos céus pelos balões infantis seria, então, na perspectiva de quem o lança, uma oferenda, se não ao cosmos em si, a algum ser (já por isso, superior) que lá se coloca.