Deu bandeira: perdas e fracassos. - Brasil, 2021 - Foto: Guina Araújo Ramos |
sexta-feira, 19 de novembro de 2021
[43] Liberdade, bandeira de todas as cores
domingo, 8 de agosto de 2021
[42] Bandeiroso Pão de Açúcar
Pão de Açúcar bandeiroso - Guina Araújo Ramos, 2000 |
Da imensa quantidade de lugares do território brasileiro onde seria honroso estampar a nossa bandeira, um dos mais significativos pode ser este, o Pão de Açúcar. Mas, naturalmente, em respeito à questão ambiental, o melhor é que se faça apenas uma projeção, e por pouco tempo.
É justamente o caso, e descrevo as circunstâncias, até porque, ao que me consta, é fato único, não creio que tenha ocorrido alguma outra vez. Pode-se pensar que fazia parte de um evento cívico-patriótico, de alguma solenidade de cunho nacionalista ou, quiçá, o ápice de uma cerimônia de louvação ufanista!
Nada disso... Representa, muito ao contrário, o apoteótico final de uma longa sessão de projeção de imagens no paredão norte do Pão de Açúcar, acontecida no distante ano de 2000, promoção de uma empresa estadunidense, creio que pertencente ao grupo Disney. O equipamento foi instalado numa torre instalada nas areias da Praia do Flamengo, de onde, graças a um poderoso zoom, enviou, durante mais de uma hora, as imagens de toda uma série de personagens dos seus filmes, e textos relacionados.
Lá estava eu, acompanhando crianças, e até fiz, sem maiores pretensões, algumas fotos. Um tanto entediados, voltamos mais cedo para casa e, já na praia de Botafogo, indo pelo Aterro do Flamengo, dei uma olhada para o Pão de Açúcar e me espantei: nele, a bandeira brasileira!
Imediatamente, busquei um retorno: precisava de um ângulo mais frontal. Entrei pelas pistas internas porque precisava parar o carro em algum lugar, o que não é possível nas do Aterro. Corria contra o tempo, a projeção podia acabar a qualquer momento... Custei a conseguir um lugar em que as árvores não interferissem, e isto só foi possível na curva do Morro da Viúva. Parei o carro sobre a calçada, peguei o tripé no carro, montei sobre o gramado. Não pude evitar a inclusão da parte de cima dos arbustos e até do risco da luz vermelha de um ônibus que passava. Fiz umas três fotos, e aí a imagem sumiu!...
A bandeira era nossa, o Pão de Açúcar também, mas o equipamento (e o negócio de que fazia parte) não...
Da série Locais Distintos
quarta-feira, 28 de julho de 2021
[41] A difícil postura olímpica
Até que ponto manter uma "postura olímpica" aquece
(e salva da morte) um ser humano?
Da série "Brasil na Miséria" - 34
Paraíso, São Paulo, 07/2021.
Em meados deste julho de 2021, apesar da pandemia, saí do Rio e passei uns dias em São Paulo. No Paraíso, bairro de velhos casarões confortáveis de famílias de classe média alta, agora invadido por prédios modernosos, observando da varanda prédios e frestas, reparei num pano amarelo na calçada ao longe.
Para fotografar, uma câmera Cyber-shot da Sony. Pequena a ponto de caber em uma mão, mas com poderoso zoom de 30x (fotos feitas da altura de uns 15 andares, em ângulo de 45 graus) e com definição de 20,4 megapixels no registro da imagem.
Era o lar de um homem, que acompanhei por três dias nessa temporada paulistana. O que mais vi foi a sua dignidade de morador de rua, em geral solitário, às vezes recebendo amigos, sempre com elegância e até, acho, bom humor. E era apenas um “detalhe”, diante dos tantos que vi na miséria das ruas e das praças enquanto dirigia pela cidade (e portanto não pude fotografar, mas todos sabem que há).
Neste momento em que, garantem, a frente fria mais gelada do século atinge São Paulo, me pergunto: como estará este meu vizinho casual?...
Ou, expressando melhor a aflição, como será que este circunstancial ex-vizinho sobreviverá ao passar cortante do frio?...
Independente do frio, a situação dos moradores de rua em São Paulo é periclitante: neste ano, já morreram 13.
E nos últimos 4 anos houve um aumento de 53% na população que vive nas ruas da cidade.
Talvez, em emergência, aceite ir para um abrigo improvisado da prefeitura. Mas, sinceramente, temo que o seu orgulho seja suficiente para que decida ficar, apesar do risco de morrer de frio.
Estamos em plena temporada olímpica pandêmica... Será que este lutador (porque atleta ele não é...), um representante do Brasil na Miséria, então cercado pela riqueza internacional, terá a “postura olímpica” de resistir, e ficar neste local em que “construiu” o seu lar?