Até que ponto manter uma "postura olímpica" aquece
(e salva da morte) um ser humano?
Da série "Brasil na Miséria" - 34
Paraíso, São Paulo, 07/2021.
Em meados deste julho de 2021, apesar da pandemia, saí do Rio e passei uns dias em São Paulo. No Paraíso, bairro de velhos casarões confortáveis de famílias de classe média alta, agora invadido por prédios modernosos, observando da varanda prédios e frestas, reparei num pano amarelo na calçada ao longe.
Para fotografar, uma câmera Cyber-shot da Sony. Pequena a ponto de caber em uma mão, mas com poderoso zoom de 30x (fotos feitas da altura de uns 15 andares, em ângulo de 45 graus) e com definição de 20,4 megapixels no registro da imagem.
Era o lar de um homem, que acompanhei por três dias nessa temporada paulistana. O que mais vi foi a sua dignidade de morador de rua, em geral solitário, às vezes recebendo amigos, sempre com elegância e até, acho, bom humor. E era apenas um “detalhe”, diante dos tantos que vi na miséria das ruas e das praças enquanto dirigia pela cidade (e portanto não pude fotografar, mas todos sabem que há).
Neste momento em que, garantem, a frente fria mais gelada do século atinge São Paulo, me pergunto: como estará este meu vizinho casual?...
Ou, expressando melhor a aflição, como será que este circunstancial ex-vizinho sobreviverá ao passar cortante do frio?...
Independente do frio, a situação dos moradores de rua em São Paulo é periclitante: neste ano, já morreram 13.
E nos últimos 4 anos houve um aumento de 53% na população que vive nas ruas da cidade.
Talvez, em emergência, aceite ir para um abrigo improvisado da prefeitura. Mas, sinceramente, temo que o seu orgulho seja suficiente para que decida ficar, apesar do risco de morrer de frio.
Estamos em plena temporada olímpica pandêmica... Será que este lutador (porque atleta ele não é...), um representante do Brasil na Miséria, então cercado pela riqueza internacional, terá a “postura olímpica” de resistir, e ficar neste local em que “construiu” o seu lar?