Pode ser que mexa num vespeiro, se não for coisa pior, mas não resisto, neste Dia da Bandeira, a umas divagações sobre ela, sempre dada a polêmicas no que representa variados anseios nacionais, exemplificados nesta minha foto.
Parto, então, dos fatos sobre a bandeira brasileira contidos nesta matéria da BBC News/Brasil, que fala das origens e da evolução do modelo atual, inspirado na bandeira da Independência.
Diz que há certa “casualidade” (ou causalidade?) na escolha das cores, uma decisão repentina de Pedro I às margens do Ipiranga: o verde seria alusão à Casa de Bragança, o amarelo à Casa de Habsburgo.
Lembra que o Brasil teve, do dia 15 até o decreto de 19 de Novembro de 1889, uma bandeira “americanófila”, réplica da bandeira dos EUA com faixas verdes e amarelas (em vez de vermelhas e brancas), proposta do jurista Ruy Barbosa, e que o próprio marechal Deodoro da Fonseca decidiu manter a geometria da bandeira imperial.
E relembra que a República conservou as cores, mas desenvolveu progressivamente a “alteração” do seu significado: "A explicação do verde das matas e do amarelo do ouro foi construída depois. Foi uma maneira tardia de a República tentar modificar o simbolismo original da bandeira, associado à monarquia" (explica o historiador Paulo Rezzutti).
Ora, se ainda estamos numa República e se as riquezas são o tema da bandeira, então há uma grande ironia neste Brasil em que vivemos: todas estas riquezas, que a bandeira verde-amarela-azul-e-branca supostamente simboliza, estão sendo dilapidadas, ou vendidas a preço vil, ou contrabandeadas descaradamente, ou praticamente entregues de mão beijada aos países e às empresas estrangeiros.
E falam tanto, em arrotos supostamente patrióticos, que a bandeira brasileira jamais deveria ser vermelha... Considerem: se é para continuar vendendo a pátria, se é para seguir o padrão entreguista vigente (que tem sido radicalizado), poderíamos fazer da bandeira um símbolo absolutamente radical deste processo. Talvez, uma paleta de todas as cores, lembrando todas as riquezas exploradas e retiradas do Brasil...
Então, que se comece pelo vermelho (homenageando o pau-brasil, que deu, inclusive, nome ao país) e que se vá até o preto (um registro evidente da mais recente e valiosa riqueza do Brasil entregue ao mundo, o petróleo do pré-sal). E entre estas, se coubessem, todas as cores!
São tantas riquezas (e tantas cores) que talvez seja preciso sintetizar em, digamos, duas, as básicas (e extremas), a vermelha e a preta: do pau-brasil ao pré-sal, o Brasil!...
Buscando ser presciente e mais abrangente, talvez um restinho do que sobrar do verde da Amazônia possa ocupar um cantinho desta bandeira-mais-que-sincera do Brasil...
Outras possibilidades, sob outros motes, sempre há...
Nossa pátria diversidade humana, por exemplo, logo sugere uma bandeira vermelha-branca-preta-amarela, nessa ordem, em razoável cronologia histórica. Só não sei se caberia, que evitaria divergências, uma distribuição proporcional às populações das cores no espaço da bandeira.
Deu bandeira: perdas e fracassos. - Brasil, 2021 - Foto: Guina Araújo Ramos |
Afinal, a angústia que acomete o Brasil tem resultado numa profusão de "bandeiras-manifesto", até porque a nossa, na versão atual, é das poucas bandeiras nacionais com espaço para palavras de ordem, motes ou bordões: é praticamente uma bandeira literária!...
Em suma (embora seja um assunto que não acaba...), se a liberdade é bandeira de todas as cores, então, reconheçamos, o povo deve ter, assumindo, toda a liberdade de escolher as cores (e também a forma) da sua bandeira.
Ou seja (e isto sim é definitivo), podemos crer: outras bandeiras brasileiras virão...
[Texto original de 19/11/2018 no Facebook,atualizado, editado e publicado aqui em 19/11/2021. Atualizado em 29/05/2022.]
Da série Eventos Insólitos