Balões com rosário - Rio, 2022 - Foto: Guina Araújo Ramos |
Sabe-se lá o sentido de certas coisas e atos que nos
surpreendem...
Neste sábado, olhando de Niterói para o Rio, na direção do Corcovado, eis que
me aparece um objeto voador em ascensão, que a princípio parecia mais um
problemático balão pré-junino.
Fui buscar a máquina fotográfica e, acionando o zoom quase ao limite, consegui
a foto (a esta altura, sem a referência da paisagem, que lhe daria mais valor).
E entendi que se tratava, como se vê, de um aglomerado de balões de gás,
daqueles de festas de aniversário, que transportava uma aparente cruz, que
depois pude reconhecer como sendo, simbolicamente, um rosário, um instrumento
religioso (creio que exclusivamente) católico.
Fiz a foto, antes de mais nada pelo inusitado da imagem, e fiquei me perguntando
que sentido teria isto, questão que, com a parca noção de religião que tenho na
cachola, não pude resolver.
Pude apenas buscar na memória possíveis alusões e conotações, que sempre foi
prática corriqueira e necessária para mim, que fui fotojornalista profissional
e até dei aulas de "leitura de imagens" em uma pós-graduação.
Bem, não pude mais do que me lembrar do indigitado padre voador que, em 2008,
também por razões midiáticas (que deve ser este o caso), viajou neste inusitado
meio de transporte do litoral do Paraná até sua inimaginável morte nas águas
religiosamente indiferentes do Oceano Atlântico...
Algum tempo depois, enfim, me veio à mente uma conotação talvez bem mais procedente: a lembrança dos barquinhos com presentes para Iemanjá que adeptos das religiões de matriz africana lançam ao mar no dia 2 de Fevereiro ou na passagem do ano.
Ou seja, o rosário elevado aos céus pelos balões infantis seria, então, na perspectiva de quem o lança, uma oferenda, se não ao cosmos em si, a algum ser (já por isso, superior) que lá se coloca.