domingo, 22 de janeiro de 2023

[53] Nuvens se expressam!

Olhar para o céu e ver como as nuvens se expressam é uma prática milenar, deve ser, só pode ser!... (Naqueles tempos não havia streamings, TV, cinema nem celular para tirar a foto...)


A nuvem que ri - Foto: Guina Araújo Ramos, Niterói, 18/01/2023

Não há quem não tenha vivido isto na infância, procurando enxergar as duvidosas figuras que os adultos apontavam, até com espanto, se a nuvem ocupa o cenário

Criança logo aprende e não mais esquece. Bem, digo, não esquece a técnica. Mas, ficando velhos, costumamos esquecer de manter a prática, de continuar atento aos movimentos do céu, de inventar - e realmente ver! - como as nuvens se expressam. Ou, dado que tudo é duvidoso, como parece que se expressam...

Numa dessas olhadas, achei esta nuvem, que me pareceu expressiva: um aglomerado branco tingido pelo amarelado da luz do sol poente que vinha da direção oposta. 

Fiz a foto no automático do celular, o branco estourou... Mudei para Manual, reduzi um pouco a exposição. Na nova foto, a nuvem ficou no exato tom daquela à minha frente, no horizonte. E tive a surpresa de ver surgirem detalhes que davam à peça uma expressão “humana”: os olhos, a ponta aguda do nariz, a boca debochadamente aberta. Enfim, eu vi: uma nuvem que ri! (Ora, se há vaca que ri, por que não uma nuvem que ri?...)

E me veio à mente a pergunta “de que se ri esta nuvem, ao fim da tarde?”, à qual respondi, como pude, para mim mesmo: “Vai ver é do sol que a gente encara no verão...”. E entendi que merecia ser publicada, para que outros rissem também...

 

Sei que tenho um ponto de vista privilegiado, vejo o Rio de Janeiro por sobre os prédios de Icaraí, Niterói, mas nem sempre as nuvens colaboram tanto... (As montanhas, sim.)

Três dias depois, num sábado de manhã, o tempo deu um tempo no verão, outro céu de nuvens: dia nublado, nebuloso, quase chuvoso.

Notei, na cortina de neblina derramada, do Centro à Zona Sul, na fachada do Maciço da Tijuca, uma brecha, uma faixa vazia de cima a baixo se deslocando do sul para o norte. Percebi onde ia passar e fui buscar a câmera (desta vez, não o celular, precisava de um zoom potente), bem a tempo!


O Rio em seu manto - Foto: Guina Araújo Ramos, Niterói, 21/01/2023

A interpretação me veio simplória: um manto sobre os ombros da cidade, o Cristo do Corcovado se fazendo de cabeça (encolhida, mas sempre viva, é do Rio!). Houve quem visse sinais bíblicos... A prima Margareth Bravo enxergou melhor: “O dia em que o Cristo Redentor resolveu pegar onda nas nuvens...”. 

Ah, interpretação mais carioca do que esta é difícil!

Da série Eventos Insólitos