domingo, 21 de janeiro de 2024

[58] O desenho no vidro da mesa

O desenho no vidro da mesa - Foto: Guina Araújo Ramos, Niterói, 2023

Longe de mim meter-me a filosofar sobre arte!... (Aliás, a filosofar sobre qualquer coisa...). Posso até recuperar alguns clichês, e escolheria, no caso, o de que a arte precisa necessariamente quebrar paradigmas, os seus próprios e até os demais, em sua incansável faina de criar novas interpretações para as coisas deste mundo, e até de outros.
Respeito profundamente as vocações, os artistas que, em si mesmo, descobriram meios surpreendentes de exprimir a sua arte. Ou, pensando bem, vice-versa: reconheceram qual arte exprimia o que estava, potencialmente, em si.
Existe também a arte casual e, se existe, também admiro. Não, talvez, pelo artista, mas certamente pelo produto. Se é uma arte que realmente cause impacto, muito bom que faça do artista seu veículo casual.
Assim, surgiram estes traços sobre o vidro, a leveza de suaves curvas, encontro e abertura em sinuosa cornucópia bidimensional. Na verdade, riscos e cortes no vidro. E tudo por acaso... Buscando ângulo ideal para uma foto, sentei na beirada da mesa de centro da sala. E levei um susto com o grito desesperado do vidro ao se partir. 
 
O problema agora é expor a obra: não me atrevo a tocar... Abaixo dela, a folha de cortiça queimada pelo sol da janela até que sustenta bem o desenho. A mesa poderia ser mantida como moldura, mas como mudar a peça inteira de lugar? Dando um banho de cola transparente, que invada as ranhuras? Retirando com cuidado e remontando?... O tempo dirá. Sempre tenho fé, ainda que em geral não resulte, de que tudo se resolverá!

E tem outro lado bom... O que me deixa mais feliz, a mim que tantas coisas quebro à toa (tampo de vidro de fogão, fechando-o sobre a boca de gás acesa; tampo de mármore ao me apoiar na ponta sem base; manopla de torneira elegante; copos e mais copos etc.), é que até quem reclama e critica (e eu compreendo...) desta vez gostou da arte!
É o tipo de arte que minha mãe gostaria que eu fizesse, talvez, quando lamentava, com algum humor, que eu era muito arteiro...
Série Artes Casuais, # 1

 

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